Micro-climas ou
"ilhas de calor"
.
Prof. Dr. Valter Machado da Fonseca*
As
“alterações climáticas” têm sido tema de importantes debates nos tempos
presentes, principalmente no momento em que são registradas temperaturas cada
vez mais altas em todos os locais do planeta. Estes eventos climáticos têm
aumentado de intensidade, em especial a partir da segunda metade do século XX
e, agora, no início do século XXI vem ganhando contornos de grande gravidade,
em função de uma série de ações antropogênicas sobre a natureza e seus
recursos. Grande parte dessas anomalias climáticas se deve à retirada desmedida
das vegetações em áreas essenciais para o equilíbrio do grande ecossistema
planetário. Aliado à remoção das fitofisionomias dos mais diversos biomas,
ocorrem, ainda, a intervenção antrópica sobre os recursos hídricos, solos e
atmosfera, aumentando exponencialmente o grau de drasticidade desta
problemática. Nas cidades, o fenômeno das anomalias climáticas fica ainda mais
evidente, em função da remoção da vegetação urbana, do aumento exorbitante dos
veículos automotivos e das atividades industriais. Podemos dizer que esta série
de ações humanas sobre o espaço urbano constitui o escopo da problemática
socioambiental urbana. Um dos efeitos mais nocivos desta onda de ações
inconsequentes no espaço urbano é o que denominamos micro-climas ou “ilhas de
calor”.
Mas, o que vem a ser os micro-climas
ou “ilhas de calor”, afinal? Podemos dizer que são
anomalias climáticas da era moderna. São mudanças climáticas urbanas pontuais,
geralmente associadas à urbanização desordenada, fruto da retirada da
vegetação, plantios de monoculturas de exportação, em especial a
cana-de-açúcar. É notório e cientificamente comprovado que as vegetações estão
diretamente associadas ao processo de refrigeração do planeta, ao aumento da
umidade do ar e, consequentemente, à manutenção da estabilidade do regime de
chuvas. Além de estarem associadas aos processos da dinâmica climática, as
vegetações também têm influência direta sobre a fertilidade dos solos, à
manutenção da biodiversidade e à estabilidade dos níveis dos corpos d’água de
superfície (lagos, rios, córregos, riachos e ribeirões).
Os
micro-climas ou “ilhas de calor” são formados especialmente a partir da remoção
das vegetações (fitofisionomias) de praças, avenidas, ruas jardins, áreas
verdes municipais e do entorno das cidades. A retirada destas formações
vegetais provoca o aumento localizado (pontual) da temperatura em diversos
locais das cidades e dos centros urbanos. O fato é muito comum em grandes
centros urbanos e em locais onde existem grandes cultivos de monoculturas para
exportação, a exemplo da cana-de-açúcar. Estas anomalias pontuais já são
bastante percebidas em cidades como Ribeirão Preto, Ourinhos, Sertãozinho,
Uberaba, Conceição das Alagoas, dentre outras, onde há a predominância deste
tipo de monocultura. Nestes locais pode-se perceber nitidamente a diferença de
temperatura entre as áreas arborizadas e não arborizadas, entre áreas onde as
formações vegetais foram removidas em função das monoculturas e áreas onde
estas fitofisionomias foram preservadas. Às áreas que sofreram o desequilíbrio
climático recente, dão-se o nome de áreas de micro-clima ou “ilhas de calor”.
A
ocorrência dessas anomalias climáticas urbanas pontuais serve como elemento de
reflexão altamente significativo acerca da importância do planejamento urbano
ambiental correto e eficiente. Se a retirada pontual da vegetação pode provocar
a mudança da temperatura em determinado ponto isolado, imaginem vocês o que
ocorrem em locais onde existem atividades antrópicas intensas sobre os recursos
florestais, a exemplo dos grandes desmatamentos, da retirada das formações
vegetais que compõem as matas ciliares, da remoção das vegetações que protegem
as nascentes dos corpos d’água? Além de provocar as “ilhas de calor”, as
remoções inconsequente das formações vegetais ainda provocam o aumento das
pragas e a superpopulação de animais peçonhentos, em função do desequilíbrio
ambiental promovido nas cidades devido a estas práticas. Neste sentido, o homem
deve repensar, urgentemente suas ações sobre o uso e manejo corretos do solo
urbano sob pena de, em curto espaço de tempo, transformar as cidades em locais
inabitáveis e impróprios para se viver, sintomas que já se fazem altamente
perceptíveis nos tempos presentes.

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