A produção de energia e
a má distribuição das chuvas
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| Pôr-do-sol com chuvas em Goiânia captada hoje por http://www.facebook.com/ary.soaresdossantos |
Prof.
Dr. Valter Machado da Fonseca *
O temor do
racionamento de energia, como acontece em quase todos os anos, é um dos
assuntos preferidos pela mídia neste início de 2013. Isto acontece, em primeiro
lugar, porque o Brasil é altamente dependente da energia hidrelétrica, ou seja,
da energia gerada a partir do potencial hidrológico de nossos corpos d’água de
superfície. Os rios brasileiros possuem grande potencial hidráulico para a
geração de energia devido ao grande volume de águas que eles comportam. No
território brasileiro estão localizadas as maiores bacias hidrográficas do
mundo. Vale destacar a bacia hidrográfica amazônica (a maior do mundo), a bacia
do Paraná, a bacia do São Francisco, do Rio grande, dentre outras. Podemos
definir uma bacia hidrográfica como a área formada a partir do complexo
hidrológico formado pelo rio principal e seus tributários (afluentes). Todo
corpo d’água de superfície possui um bacia de drenagem e uma bacia de
inundação.
E por que, mesmo apesar de às vezes acontecer grandes
volumes de precipitações pluviométricas (chuvas), os reservatórios continuam
com níveis abaixo do normal? Isto
se deve a diversos fatores, como por exemplo: (a) chuvas muito rápidas e
concentradas, geralmente são ineficientes para aumentar o volume dos rios e
encherem os reservatórios. Pois, este tipo de precipitação pluviométrica
escorre muito rapidamente pelo solo, não havendo prazo suficiente para a
infiltração da água no solo, o que impede o aumento dos níveis dos lençóis
freáticos que irão alimentar os corpos d’água. (b) as chuvas localizadas nas
regiões intermediárias das bacias hidrográficas. Estas precipitações também são
ineficientes, pois, não atingem as zonas de recarga dos corpos d’água e escorrem
superficialmente não aumentando os níveis dos rios, córregos e ribeirões.
Então, para que o volume de precipitações seja suficiente para elevar os níveis
dos corpos d’água, elas têm que ocorrer nas regiões e locais corretos, isto é,
elas têm que atingir as zonas de recarga dos mananciais: cabeceiras dos rios
córregos e ribeirões, áreas rebaixadas das bacias de drenagem, áreas de
recargas como os subsistemas de veredas, etc.
Então, muitas
vezes volumes excessivos de chuvas não significam aumento dos volumes dos rios
e dos níveis dos reservatórios das hidrelétricas. Além de ser essencial o
volume correto de precipitações, faz-se necessário que ele ocorra nas regiões e
locais de alimentação das zonas de recarga dos corpos d’água. Neste sentido, as
precipitações têm que ser abundantes, frequentes e num ritmo gradual,
permitindo a infiltração constante de água no solo, de maneira a manter o
abastecimento do lençol freático.
Outros
fatores que têm agravado o volume, ritmo, velocidade, frequência e localização correta
das precipitações são os impactos antropogênicos sobre os sistemas
aquático-terrestres. Ou seja, a ação desordenada do homem sobre as matas
ciliares (muitas vezes removendo totalmente estas vegetações), os impactos
sobre os rios e demais corpos d’água de superfície por intermédio de atividades
de mineração de areias e cascalhos, provocando o assoreamento desses
mananciais, a remoção das vegetações das cabeceiras dos rios, córregos,
ribeirões e riachos e /ou remoção das vegetações das nascentes desses corpos
d’água. Então, aliada aos fatores naturais que incidem sobre os tipos e volumes
das precipitações, a ação antrópica desordenada do homem sobre os recursos
hídricos e vegetações a eles associados têm provocado diminuições drásticas no
volume, velocidade, ritmo, quantidade, localização e frequência destas
precipitações.
Diante do
exposto, torna-se preponderante que o homem tome ciência dos cuidados que
deverão ser despendidos no trato com os recursos da natureza, pois, a água
potável tem se transformado em recurso raro e, quem sabe, dentro de pouco tempo
haveremos de pagar caro por nossa irresponsabilidade, por meio de um desequilíbrio
letal no ecossistema terrestre, o que poderá provocar um desequilíbrio
ambiental sem retorno, colocando em risco a continuidade de inúmeras espécies
de seres vivos e dentre elas, o próprio ser humano.
* Escritor. Geógrafo, Mestre e
Doutor pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pós-Doutorando pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Pesquisador e professor da Universidade de Uberaba (UNIUBE). machado04fonseca@gmail.com

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