22 DE MARÇO:
Dia Internacional das Águas
![]() |
| Oceano Atlântico visto a partir de João Pessoa na Paraíba |
Prof. Dr. Valter
Machado da Fonseca*
Apresentação
Neste
dia 22 de março comemora-se mais um “Dia Internacional das Águas”.
É importante destacar que a preocupação com a conservação e
preservação dos recursos hídricos deve fazer parte de nossa agenda
cotidiana diária e não somente numa data dedicada a eles. Com o
intuito de chamar a atenção para o uso, manejo e gestão corretos
dos recursos hídricos é que apresento este breve texto sobre a água
em seus diversos estados físicos.
A
água
é a substância química mais abundante na face da Terra. Veja sua
distribuição na tabela abaixo:
RESERVATÓRIOS
DE ÁGUA DA TERRA
|
||
RESERVATÓRIO
|
%
DO TOTAL
|
VOLUME
EM
QUILÔMETROS CÚBICOS |
Oceano
|
97,25%
|
1.370.000.000
|
Calotas
polares/geleiras
|
2,05%
|
29.000.000
|
Água
subterrânea
|
0,68%
|
9.500.000
|
Lagos
|
0,01%
|
125.000
|
Solos
|
0,005%
|
65.000
|
Atmosfera
|
0,001%
|
13.000
|
Rios
|
0,0001%
|
1.700
|
Biosfera
|
0,00004%
|
600
|
TOTAL
|
100%
|
1.408.700.000
|
Fonte:
MMA1,
2001
Org.:
V.
M. da Fonseca, 2006.
Analisando
os dados da tabela , nota-se que apesar de o planeta ser constituído
em sua maioria absoluta por água, a maioria dela é imprópria para
o consumo humano e de diversas espécies de seres vivos. Percebe-se
que 97,25% dela estão nos mares e oceanos o que corresponde a
1.370.000.000 Km3,
seguido pelas calotas polares (29.000.000 de Km3)
que corresponde a 2,05% do total de água do planeta. A água
disponível para o consumo humano2
encontra-se nos reservatórios subterrâneos, nos lagos e nos rios.
PRINCIPAIS
ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS
A
água é uma substância imprescindível à existência e
continuidade da vida no planeta Terra. Ao contrário do que pensam
muitos, a vida não começou na terra (nos continentes), mas nos
ecossistemas aquáticos e depois evoluiu para os continentes. Daí
pode-se inferir sua importância para a vida de todas as espécies
presentes em nosso planeta. A mídia comumente afirma que a água no
planeta vem diminuindo. Trata-se de uma informação errônea. O que
vem diminuindo é a quantidade de água potável, devido à sua
contaminação pela ação antrópica. A quantidade total de água no
planeta se mantém constante e é regulada por um mecanismo
denominado “Ciclo da Água.. No mundo todo, as principais nações
estabelecem mecanismos
de controle, gestão e regulação de seus recursos hídricos3,
pois, já preveem a escassez de água potável, num futuro próximo.
OS MARES E
OCEANOS
Os
mares e oceanos, além de serem os ecossistemas mais ricos do planeta
em biodiversidade, influem de maneira direta na formação dos vários
tipos climáticos do planeta. São também nestes ecossistemas que
ocorrem a presença dos alimentos primários para a “Cadeia ou Teia
da vida”, os plânctons
e fitoplanctons4.
Os mares e oceanos estão diretamente ligados ao processo de
precipitação pluviométrica (regime de chuvas), à formação das
massas de ar, responsáveis pela regulação climática e à formação
das correntes marinhas, outro componente essencial nos processos
climáticos e na regulação térmica das águas dos oceanos.
Este
complexo e importante ecossistema é habitado por milhões de
espécies tanto animais quanto vegetais. Pesquisas científicas
apontam que a origem de todas as espécies de seres vivos ocorreu
nestes ecossistemas.
Os
mares e oceanos representam um importante mosaico, que serve de
registro histórico das atividades geológicas durante vários
períodos da história da dinâmica da terra. A oceanografia é o
ramo das ciências responsável pelos estudos marinhos. Apesar do
avanço das pesquisas, o relevo submarino, principalmente o das
regiões mais profundas (abissais) ainda não é suficientemente
conhecido, se comparado com as pesquisas realizadas nos continentes.
A litologia5
do fundo dos oceanos não é conhecida por processos diretos, mas sim
por intermédio de dragas e sondas especiais e de conhecimentos e
experiências na área de sismologia6.
Os
mares e oceanos apresentam as seguintes feições topográficas
principais, a saber:
1
– As margens continentais, formadas pelo talude continental,
plataforma continental;
2
– A elevação continental;
3
– Os assoalhos oceânicos;
4
– Os sistemas de cordilheiras oceânicas.
A
vida de todas as espécies que habitam os ecossistemas continentais
está diretamente ligada à vida marinha, pois os mares e oceanos
além de fornecer inúmeros nutrientes para as demais espécies que
habitam os continentes, também são elementos que interferem
diretamente nas formações climáticas, no processo de precipitações
pluviométricas e na formação das correntes de ar.
É
importante destacar que este vasto ecossistema, em especial nos dias
atuais, tem sido afetado por desastres ecológicos que ameaçam a
vida de suas espécies, a exemplo de derramamento de óleos, poluição
das águas litorâneas, acúmulo de dejetos nas águas, ações de
despejos de resíduos domésticos e industriais, dentre outras ações
degradantes do ambiente marinho. A degradação do ambiente marinho
tem despertado a atenção de importantes setores da sociedade,
Organizações Não Governamentais (ONGs), as quais tem se empenhado
na proposição de ações preservacionistas para minimizar os
efeitos da ação humana sobre este ecossistema.
OS MANGUEZAIS:
ECOSSISTEMAS DE TRANSIÇÃO
Muitos
estudiosos afirmam que os mangues ou manguezais são ecossistemas de
transição entre os ecossistemas terrestres e aquáticos. Mas, o que
sabe de fato e que, no fim das contas é mais importante, é que se
constituem em ecossistemas riquíssimos em espécies responsáveis
pelo equilíbrio de vários outros ecossistemas, apesar de serem
extremamente frágeis.
O
Manguezal também é conhecido pelo nome de Mangal ou Mangue.
Trata-se de um ecossistema litorâneo, de transição entre os
ambientes terrestres e marinhos. São zonas úmidas próprias de
regiões tropicais ou subtropicais.
Os
Manguezais cumprem papéis preponderantes na manutenção das
espécies, pois são responsáveis pelo fornecimento de matéria
orgânica para os estuários, auxiliando, dessa forma, como
produtores primários de nutrientes na zona costeira dos continentes.
Estão entre os ecossistemas complexos e os mais férteis e
diversificados do planeta. A sua rica diversidade biológica faz
destas áreas grandes “berçários” naturais, tanto para espécies
do próprio ecossistema, como para outros animais, aves, moluscos,
peixes e crustáceos, que encontram nestes ambientes, as condições
ideais para sua reprodução e sobrevivência. Daí sua importância
ecológica e/ou econômica. Esses ambientes são responsáveis pela
produção de cerca de 95% dos alimentos que o homem captura no mar.
Sua manutenção é vital para as comunidades pesqueiras que habitam
o seu entorno. Em relação aos solos, a vegetação dos mangues
funciona como fixadores dos solos, impedindo a erosão e servindo
como estabilizador da linha costeira. As raízes do manguezal
funcionam como filtros para retenção dos sedimentos. Os manguezais
constituem-se em importantes bancos genéticos para a recuperação
de áreas degradadas, principalmente às afetadas por metais pesados.
É
possível a exploração sustentável dos manguezais?
Sim!
Os manguezais podem ser explorados de maneira sustentável, desde que
se observem certas particularidades. Diversas atividades podem ser
realizadas de forma sustentável nos manguezais:
- Pesca esportiva,
artesanal ou de subsistência, desde que se respeitem as épocas de
criação e procriação das espécies;
- Utilização de
madeira das árvores, desde que se assegure o correto
reflorestamento;
- Cultivo de ostras,
caranguejos e outros seres aquáticos;
- Cultivo de plantas
ornamentais, como orquídeas e bromélias;
- Atividades de
apicultura;
- Exploração do
potencial turístico, recreativo, educacional e de pesquisa
científica.
Segundo
estimavas, existem 170.000 de Km2
de manguezais, em todo o planeta. Deste total, aproximadamente 15%
(26.000 Km2)
estão distribuídos no litoral brasileiro do Estado do Amapá até
Santa Catarina. Vários destes manguezais estão sendo transformados
em áreas de preservação.
AS GELEIRAS
Cerca
de 10% (uma extensão aproximada de 15 milhões de Km2)
das áreas ocupadas pelos continentes, no globo terrestre, são
cobertas de gelo
perene7,
sem contar as áreas que se cobrem temporariamente de gelo e neve. As
geleiras constituem-se em relevantes agentes de formação geológica,
que agem sobre os processos de modelagem do relevo terrestre, além
de serem imprescindíveis para a manutenção do equilíbrio do
grande ecossistema planetário, agindo como controladoras do nível
de água dos oceanos. Elas também possuem incidência direta sobre o
clima global, uma vez que controla o nível dos oceanos, além do
que, as regiões polares e/ou de clima frio constituírem um
ecossistema riquíssimo em diversidade biológica e responsável,
ainda, pela refrigeração (ao lado da vegetação) e controle
térmico do planeta.
Há
aproximadamente 1 (um) milhão de anos atrás, quase 30% da
superfície dos continentes esteve coberta por gelo perene, portanto
uma superfície quase 3 vezes maior que a cobertura atual. Mesmo no
Brasil, isento hoje da ação do gelo, já sofreu no passado remoto,
há cerca de 200 milhões de anos, intensas atividades glaciais,
deixando numerosos vestígios em todo o sul do país. Estes elementos
e dados demonstram a importância do gelo para a compreensão das
condições climáticas das remotas eras do planeta Terra. As
atividades do gelo são muito importantes para os estudos
paleoclimáticos, possibilitando, muitas vezes ter-se uma idéia do
ambiente em tempos passados, às vezes bastante remotos.
Hoje,
estudos avançados demonstram que as calotas8
polares
(geladas) e o gelo permanente de altitude, são elementos
fundamentais para manter o equilíbrio da dinâmica da Terra.
Alterações significativas nestas condições podem mexer com a
estabilidade climática de todo o planeta, e comprometer seriamente o
equilíbrio do ambiente terrestre.
As
formas arredondadas nas pontas das montanhas de gelo indicam a
ocorrência do fenômeno do degelo destas geleiras. Nos dias atuais
este fenômeno vem se tronando mais intenso em função do
aquecimento global, ocasionado pela emissão de gases poluentes para
a atmosfera do planeta. As geleiras são constituídas de água doce,
mas que quando se derretem suas águas se incorporam às águas
salgadas dos oceanos. O derretimento das geleiras, além de
interferir no equilíbrio climático do planeta, também provoca o
aumento do nível dos mares e oceanos. O derretimento das geleiras
também tem interferido na vida de diversas espécies que habitam as
regiões no entorno das calotas polares do planeta. Além dos polos,
as geleiras são encontradas também em zonas de grandes altitudes e
são chamadas de gelo de altitude.
Nas
regiões frias e temperadas encontramos ecossistemas típicos
chamados tundra e taiga, respectivamente. São vegetações típicas
de clima frio que abrigam importantes espécies, tanto animais quanto
vegetais.
O TRATADO DA
ANTÁRTIDA
A
Antártida, também conhecida como Polo Sul, ou “Continente
Gelado”, é um ecossistema de grande importância para todas as
nações e um potencial objeto de investigação científica. O
continente situado na extremidade do Hemisfério Sul do planeta, é
um rico mosaico que abriga importantes espécies que servem de
parâmetros para as pesquisas sobre o estágio de preservação
ambiental do planeta. A investigação de sua fauna e flora pode
levar a importantes indícios sobre a qualidade da saúde ambiental
do ecossistema planetário.
As Nações
Unidas e o Tratado da Antártida
O
continente gelado adquiriu grande importância para as diversas
nações do mundo. Tanto é que um número significativo de nações
possuem bases de pesquisas científicas no continente, visando
realizar observações sobre diversos aspectos relativos à fauna,
flora, solo, paisagens, alterações climáticas, dentre outras.
O
Tratado da Antártida é um compromisso oficial datado de 1º de
dezembro de 1959, pelas nações que reivindicavam a posse de partes
do continente, visando a realização de pesquisas de caráter
meramente científicos. Os países/membros se comprometeram a
realizar tais pesquisas em regime de cooperação internacional entre
as diversas nações integrantes do acordo.
O
Brasil possui uma base de pesquisas científicas no continente
gelado. É a base militar Comandante Ferraz. Esta base já forneceu
elementos e observações significativas para o desenvolvimento de
pesquisas científicas no Brasil, bem como para o desenvolvimento de
ações de preservação ambiental em nosso país. Países que
possuem base de pesquisas científicas na Antártida: África do Sul,
Alemanha, Argentina, Austrália, Bélgica, Brasil, Bulgária, Chile,
China, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Equador, Espanha, EUA,
Finlândia, França, Índia, Itália, Japão, Noruega, Nova Zelândia,
Países Baixos, Peru, Polônia, Portugal, Reino Unido, Rússia,
Suécia, Turquia, Ucrânia, Uruguai.
O Tratado adota as
seguintes regras reguladoras das atividades na região:
- Assegura a liberdade de pesquisa, cujos resultados devem ser permutados e tornados livremente utilizáveis, estando prevista a presença de observadores das Partes Contratantes com acesso irrestrito a qualquer tempo e em qualquer lugar, aí incluídas todas as estações, instalações e equipamentos existentes na Antártica;
- Permite que equipamento ou pessoal militar possa ser introduzido na região, desde que para pesquisa científica ou para qualquer outro propósito pacífico;
- Exorta as Partes Contratantes a empregarem esforços apropriados, de conformidade com a Carta das Nações Unidas, para que ninguém exerça, na Antártica, qualquer atividade contrária aos princípios do Tratado;
- Admite a modificação ou emenda do Tratado a qualquer tempo, por acordo unânime das Partes, ou após decorridos trinta anos de vigência, por solicitação de qualquer uma das Partes Contratantes;
- Elege o governo dos Estados Unidos como depositário dos instrumentos de ratificação do Tratado e concede a possibilidade de adesão a qualquer Estado que seja membro das Nações Unidas;
- Estabelece que nenhuma nova reivindicação, ou ampliação de reivindicação existente, relativa à soberania territorial na Antártica, será apresentada enquanto o presente Tratado estiver em vigor e;
- Proíbe a realização de explosões nucleares e o depósito de resíduos radioativos (primeiro acordo nuclear internacional).
Então
se pode concluir que as ações desenvolvidas pelas diversas nações
que fazem parte do Tratado da Antártida são extremamente relevantes
para os estudos dos diversos ecossistemas terretres, bem como das
diversas espécies que os compõem. Assim, por intermédio de
observações do comportamento dos elementos da fuana, da paisagem,
do fenômeno do derretimento das geleiras, podem-se inferir
importantes diagnósticos sobre a saúde ambiental do planeta. Por
meio destes diagnósticos podem se promover ações, visando à
preservação de diversos ecossistemas e suas em várias partes do
globo terrestre. A triste constatação que se tem observado nos
últimos anos, em investigações científicas no “Continente
Gelado” é o elevado índice de derretimento de geleiras e
Icebergs, em decorrência do aquecimento global, fruto da ação
predadora do homem sobre o ambiente.
As
regiões alagadas e pantanosas
Outros
ecossistemas relevantes e responsáveis por manter o nível do lençol
freático são as áreas alagadas e/ou pantanosas. Estas áreas
geralmente apresentam vegetação exuberante, composta por espécies
vegetais cujas raízes se adaptam às áreas de alagamento. Possuem
uma fauna rica e composta de mamíferos (que geralmente vivem nas
copas das árvores, a exemplo dos primatas), répteis, anfíbios,
crustáceos, além de uma grande variedade de insetos. Estas áreas
geralmente possuem razoável estado de conservação, por serem de
difícil acesso e pouco propícia á ocupação humana.
Outro ecossistema importante das áreas alagadas são as
Veredas, muito comuns no Cerrado brasileiro. Segundo MALHEIROS et. aL
(2004, p.19) “Vereda é o espaço brejoso ou encharcado, que contém
nascentes ou cabeceiras de cursos d’água, onde há ocorrência de
solos hidromórficos9,
caracterizado predominantemente por renques de buritis10
do brejo (Mauritia
flexuosa) e outras
formas de vegetação típica”. Alguns estudiosos consideram as
veredas como um subsistema dentro do Cerrado. A Agência Nacional das
Águas estuda uma legislação específica para regular a exploração
das veredas, uma vez que grande parte das vezes a existência das
veredas está associada à existência de nascentes de água doce, ou
estão próximas dos corpos d’água.
O
Pantanal Mato-Grossense
O pantanal mato-grossense é considerado um dos mais
belos e mais ricos biomas do mundo. É considerado por muitos um
“santuário ecológico da humanidade. O professor Aziz Ab’Sáber,
um dos maiores geomorfólogos do mundo e professor da Universidade de
São Paulo (USP), assim disserta sobre este importante ecossistema:
Na categoria de uma grande e
relativamente complexa planície de coalescência detrítico-aluvial,
o Pantanal Mato-Grossense inclui ecossistemas do domínio dos
Cerrados e ecossistemas do Chaco, além de componentes bióticos do
Nordeste seco e da região periamazônica. Do ponto de vista
fitogeográfico, trata-se de um velho “complexo” regional, que os
mapeamentos de vegetação, elaborados a partir de documentos de
imagens de sensoriamento remoto, transformaram em um mosaico
perfeitamente compreensível da organização natural do espaço, e,
em nada, “complexo”. [...] Decorrem, disso tudo, novas e maiores
responsabilidades para os que se dedicam ao conhecimento dessa grande
depressão aluvial, localizada no centro do continente sul-americano
(AB’SÁBER, 2006, p.12).
A citação de Ab’Sáber (2006) demonstra que o
ecossistema pantaneiro é um autêntico mosaico composto por aspectos
comuns a vários outros ecossistemas brasileiros, como o Cerrado, a
Caatinga, o Chaco, a Amazônia. Assim sendo, ele se torna um
ecossistema ímpar, com particularidades não encontradas em nenhum
outro ecossistema de alagamento do planeta. Sua vegetação é
adaptada ao ambiente aquático durante o verão e terrestre em alguns
locais, no inverno. Nele habitam mais de uma centena de espécies de
aves com plumagens de todas as cores e matizes, uma grande variedade
de mamíferos, em especial os que habitam as copas das árvores como
os primatas, diversas espécies de repteis (jacarés e serpentes),
quelônios (tartarugas de diversas espécies, cágados), além de
centenas de espécies de peixes.
Por sua exuberante beleza e pelo enorme potencial
turístico e paisagístico o Pantanal Mato-Grossense e regiões
adjacentes têm chamado a atenção de turistas do mundo todo. Muitos
proprietários de terras da região têm abandonado as atividades
econômicas tradicionais da região para investir em atividades
ligadas ao ecoturismo, à pesca esportiva e recreativa, dentre outras
atividades ligadas ao setor turístico. Outros trocam as atividades
tradicionais pela construção de reservas ecológicas voltadas á
exploração sustentável das atividades de turismo e lazer. Isto tem
feito com a população local e os proprietários dos
estabelecimentos rurais passem a enxergar o ecossistema com outros
olhos. Conseguem perceber o potencial turístico-paisagístico
regional, como forma de investimentos em atividades sustentáveis,
preservando, desta maneira, as espécies que valorizam o ecossistema.
A grande maioria dos produtores rurais pantaneiros já
consegue aliar suas atividades agropecuárias com a preservação dos
recursos naturais da região. Nota-se, com esta lógica, que as
atividades turísticas quando possuem uma gestão correta e eficiente
pode auxiliar, sobremaneira, para a preservação dos recursos
naturais e das espécies que habitam os ecossistemas naturais. É
claro que o Pantanal enfrenta, como todo ecossistema nos dias atuais,
problemas de degradação, como a matança indiscriminada de jacarés,
a pesca predatória, o desmatamento indiscriminado, o tráfico de
animais silvestres, dentre outras formas de degradação. Mas seus
moradores têm dado passos decisivos no sentido de superação destes
problemas.
Rios, lagos, riachos,
córregos e ribeirões
Os corpos d’água superficiais, em especial os rios,
riachos e ribeirões são originados de afloramentos dos
reservatórios de água subterrâneas, denominados de nascentes.
Estes corpos d’água possuem canais de drenagem protegidos por
vegetações que os margeiam denominadas matas
ciliares11.
Estes corpos d’água superficiais são as principais fontes de água
potável para o consumo humano. Hoje em dia, infelizmente, as fontes
de água potável estão sendo cada vez mais ameaçadas pela ação
degradante do homem sobre a natureza.
É muito comum, na atualidade, o despejo de dejetos
domésticos e industriais diretamente nos corpos d’água. A remoção
das matas ciliares deixa as margens dos rios totalmente expostas aos
processos erosivos e ao assoreamento do leito dos rios. A destruição
da vegetação das nascentes, do mesmo modo, deixam-nas expostas aos
processos de degradação e poluição, chegando por muitas vezes, à
própria extinção de várias nascentes. Estes processos de poluição
e degradação das águas superficiais fez com que os órgãos
fiscalizadores criem legislações fiscalizadoras, reguladoras, além
de mecanismos que visem a gestão mais eficiente dos recursos
hídricos. A legislação atual transforma as nascentes, por exemplo,
em Áreas de Proteção Permanente (APPs), com legislação e
regulamentação próprias. Em grande parte das vezes os produtos
químicos advindos dos insumos agrícolas e agrotóxicos, os resíduos
industriais provenientes dos polos industriais, das atividades de
mineração, dentre outras, acabam por extinguir a vida de todas as
espécies desses ecossistemas, em longos percursos desses corpos
d’água.
O acúmulo de matéria orgânica dentro dos rios faz
aumentar o número de microorganismos e bactérias consumidoras de
oxigênio. Com a falta de oxigênio há extinção de todos os seres
vivos aeróbicos. Nesses locais se faz necessário as pesquisas para
verificar a DQO12
e DBO13,
visando garantir a capacidade de auto-purificação das águas.
Nestes casos é comum a introdução de espécies vegetais, como
microorganismos e algas (anaeróbicas) produtoras de oxigênio. A
introdução dessas espécies faz com que a produção de oxigênio
volte aos níveis anteriores (antes do acúmulo de matéria orgânica)
devolvendo novamente ao rio, sua capacidade de auto-purificação.
Neste sentido, em alguns locais é necessário a
recomposição da vegetação de nascentes e matas ciliares dos rios
e seus afluentes. Em outros locais é preciso realizar todo o
processo de revitalização desses ecossistemas. Neste tópico
trataremos da análise das ações relativas à proteção das
nascentes e das matas ciliares.
RECOMPOSIÇÃO DE MATAS CILIARES
Em
locais onde não existem matas ciliares ou estão muito degradadas,
elas devem ser repostas. Existem espécies vegetais próprias para
recomposição dessas matas. Mas, antes de se iniciar o replantio
deve-se realizar um estudo para verificar as espécies que existem ou
que existiram nas proximidades, de maneira a realizar o
reflorestamento com as mesmas espécies que existiam no local.
Porém, é recomendável a utilização de, pelo menos
uma boa parcela, de mudas de espécies frutíferas. As árvores
frutíferas têm a finalidade de trazer de volta a fauna,
principalmente aves e insetos (a abelha, em especial, é muito
importante para a polinização). As árvores frutíferas, além de
trazer de volta a fauna regional, também produzem alimentos para
diversas espécies de peixes que se alimentam de seus frutos. Cuidar
das matas ciliares é uma das formas de manter a vida das espécies
do ecossistema, além de proteger o curso d’água dos processos
erosivos e do assoreamento.
Os
ecossistemas
formados pelas matas ciliares desempenham suas funções hidrológicas
das seguintes formas:
- Estabilizam a área crítica, que são as ribanceiras do rio, pelo desenvolvimento e manutenção de um emaranhado radicular;
- Funcionam como tampão e filtro entre os terrenos mais altos e o ecossistema aquático, participando do controle do ciclo de nutrientes na bacia hidrográfica, através de ação tanto do escoamento superficial quanto da absorção de nutrientes do escoamento subsuperficial pela vegetação ciliar;
- Atuam na diminuição e filtragem do escoamento superficial impedindo ou dificultando o carregamento de sedimentos para o sistema aquático, contribuindo, dessa forma, para a manutenção da qualidade da água nas bacias hidrográficas;
O
principal papel desempenhado pela mata ciliar na hidrologia
de uma bacia
hidrográfica pode
ser verificado na quantidade de água do deflúvio. Em estudos
realizados para verificar o processo de filtragem superficial e
subsuperficial dos nutrientes, nitrogênio,
fósforo,
cálcio,
magnésio
e cloro;
através da presença da mata ciliar, as conclusões foram as
seguintes:
- A manutenção da qualidade da água em microbacias agrícolas depende da presença da mata ciliar;
- A remoção da mata ciliar resulta num aumento da quantidade de nutrientes no curso de água;
- Esse efeito benéfico da mata ciliar é devido à absorção de nutrientes do escoamento subsuperficial pelo ecossistema.
PRESERVAÇÃO DAS NASCENTES
Entende-se
por nascente o afloramento do lençol freático, que vai dar origem a
uma fonte de água de acúmulo (represa), ou cursos d’água
(regatos, ribeirões e rios).
Em
virtude de seu valor inestimável dentro de uma propriedade agrícola,
deve ser tratada com cuidados especiais.
Segundo
Calheiros et. al (2004, p.13):
[...] além da quantidade de água
produzida pela nascente, é desejável que tenha boa distribuição
no tempo, ou seja, a variação da vazão situe-se dentro de um
mínimo adequado ao longo do ano. Esse fato implica que a bacia não
deve funcionar como um recipiente impermeável, escoando em curto
espaço de tempo toda a água recebida durante uma precipitação
pluvial. Ao contrário, a bacia deve absorver boa parte dessa água
através do solo, armazená-la em seu lençol subterrâneo e cedê-la,
aos poucos, aos cursos d’água através das nascentes, inclusive
mantendo a vazão, sobretudo durante os períodos de seca.
As
nascentes, cursos d’água e represas, embora distintos entre si por
várias particularidades quanto às estratégias de preservação,
apresentam como pontos básicos comuns o controle da erosão do solo
por meio de estruturas físicas e barreiras vegetais de contenção,
minimização de contaminação química e biológica e ações
mitigadoras de perdas de água por evaporação e consumo pelas
plantas. Deve-se estar ciente de que a adequada conservação de uma
nascente envolve diferentes áreas do conhecimento, tais como
hidrologia, conservação do solo, reflorestamento, etc.
Importante!
As
nascentes localizam-se em encostas ou depressões do terreno ou ainda
no nível de base representado pelo curso d’água local; podem ser
perenes (de fluxo contínuo), temporárias (de fluxo apenas na
estação chuvosa) e efêmeras (surgem durante a chuva, permanecendo
por apenas alguns dias ou horas).
Cobertura vegetal
das nascentes
Toda
nascente, por sua importância, é considerada pela legislação que
regula a gestão de recursos hídricos, como Área de Preservação
Permanente (APP). Sendo assim, existem leis que regulam a disposição
da cobertura vegetal de proteção das nascentes, locais e disposição
de construções e edificações em áreas de nascentes, localização
de estradas, dentre outros fatores que visem a proteção da APP.
A
Figura, a seguir, mostra como deve ser a disposição, bem como o
tipo de vegetação de proteção das nascentes.
Figura
11: Distribuição
esquemática adequada das diferentes coberturas vegetais e usos em
relação à nascente.
Fonte:
Calheiros et. al (2004, p.27)
Então,
a partir deste dia 22 de março vamos procurar aliar nossa
consciência com ações práticas efetivas, no sentido de
preservação do grande tesouro hídrico brasileiro, em especial os
reservatórios de água potável. Pois, ela (a água) é a essência
da existência da vida em todas as suas formas, desde as mais simples
até as mais complexas, inclusive a espécie humana.
Referências:
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do Brasil.
São Paulo: Edusp, 1995. – (Didática; 3).
* Escritor. Geógrafo, Mestre e Doutor pela Universidade Federal de
Uberlândia (UFU). Pós-doutorando em recuperação de áreas
degradadas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Professor e pesquisador da Universidade de Uberaba (UNIUBE).
1Brasil
- Ministério do Meio Ambiente – Governo Federal.
2
Do total de água potável disponível na Terra, 12% estão em
território brasileiro.
3
No Brasil, o organismo responsável pela gestão e controle dos
recursos hídrico é a Agência Nacional das Águas (ANA).
4
São tipos de algas e/ou organismos microscópicos presentes nas
águas dos mares e oceanos, que se constituem em fonte primária de
alimentação de espécies animais e necessários também para o
início do processo da fotossíntese, enfim, são organismos
essenciais para o início da cadeia alimentar.
5
O termo litologia refere-se à composição das rochas e das
estruturas geológicas.
6
Sismologia é o ramo do conhecimento científico que trata,
especificamente, do estudo das ondas sonoras e eletromagnéticas,
principalmente as ondas sísmicas.
7
Gelo perene é aquele gelo que permanece durante todo o ano, são
permanentes. São extremamente importantes para o equilíbrio
ecológico do planeta e pelo controle e regulagem do atual nível
dos oceanos.
8
Denominam-se Calotas Polares às regiões situadas em torno dos
pólos, constituídas essencialmente de gelo perene.
9
Solos hidromórficos são aqueles que possuem afinidade para a
retenção de água.
10
Espécie de palmeira muito comum nos brejos e nas regiões alagadas,
principalmente nas veredas. É um excelente indicador da presença
de água e de ambientes preservados. Infelizmente, grande parte das
veredas tem sido destruída com a ocupação agrícola do Cerrado.
11
O termo “ciliares” é uma analogia aos cílios que protegem os
nossos olhos. Assim como os cílios protegem os olhos, a vegetação
que acompanha os canais de drenagem protege os rios, riachos,
ribeirões e lagos.
12
Demanda Química de Oxigênio.

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