Florestas tropicais:
como explorá-las de forma sustentável?
.
É mais que notório a
importância das florestas tropicais para vida de todas as espécies
de seres vivos do planeta, além de influenciarem diretamente sobre
as condições climáticas do planeta. Trata-se de cossistemas
riquíssimos, com enorme variedade de espécies animais e vegetais,
além de extenso potencial em recursos hídricos.
Furlan (1999, p.10) disserta
sobre os ecossistemas das floresta tropicais:
As florestas tropicais
cobrem 8% da superfície do planeta e, segundo estimativas, cerca de
50% de toda a madeira em crescimento que existe sobre a face da Terra
estão nelas localizadas. Aproximadamente 40% da diversidade
biológica que conhecemos para os ambientes terrestres aí se
encontram. Com tudo isso, é de se imaginar que as florestas
tropicais apresentem potencial para inúmeras outras finalidades além
do fornecimento de madeira, embora esse continue sendo um dos seus
principais produtos de extração e talvez o maior motivo de sua
destruição. As florestas tropicais estão desaparecendo a uma taxa
anual de 15,4 milhões de hectares; ou seja, quase 1% de sua área
desaparece a cada ano. Essa taxa, apesar de considerada muito alta,
aumentou muito pouco desde a década de 1960.
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| Valter Machado da Fonseca em curso de Educação Ambiental em Goiânia |
Neste estudo, pela
inviabilidade da análise todas as florestas tropicais do mundo,
trataremos em especial da Floresta Amazônica.
O
professor A’b Sáber define desta forma este complexo e vastíssimo
ecossistema:
No cinturão de máxima
diversidade biológica do planeta – que tornou possível o advento
do homem – a Amazônia se destaca pela extrordinária continuidade
de suas florestas, pela ordem de grandeza de sua principal rede
hidrográfica e pelas sutis variações de seus ecossistemas, em
nível regional e de altitude. Trata-se de um gigantesco domínio de
terras baixas florestadas, disposto em anfiteatro, enclausurado entre
a grande barreira imposta pelas terras cisandinas e pelas bordas dos
planaltos Brasileiro e Guianense (A’B SÁBER, 2003, p.65)
Segundo
dados dos centros de pesquisas internacionais, a Amazônia
brasileira, que ocupa 4.871.000 km2, cerca de 61% do território
nacional, é o grande atrativo em uma época em que a biotecnologia
agrega valor à biodiversidade. O valor dos serviços de ecossistemas
e capital natural representa 33 trilhões de dólares atuais, quase
duas vezes o produto interno bruto (PIB) mundial. No Brasil,
estima-se que este valor atinja 45% do PIB, considerando-se somente a
atividade agroindustrial, a extração de madeira e pesca. A Amazônia
possui 30% de todas as seqüências de DNA que a natureza combinou em
nosso planeta, um estoque genético que representa fonte natural de
produtos farmacêuticos, bioquímicos e agronômicos. Estima-se que
existam de 5 a 30 milhões de espécies na Amazônia, estando apenas
1,4 milhões dessas catalogadas: 750 mil espécies de insetos, 40 mil
de vertebrados, 250 mil espécies diferentes de árvores/hectare,
1400 tipos de peixes, 1300 espécies de pássaros e mais de 300
espécies de mamíferos diferentes. Só no Brasil, há 2,8 mil
espécies de madeiras distribuídas em 870 gêneros e 129 diferentes
famílias botânicas que representam, aproximadamente, 1/3 das
florestas tropicais do mundo, uma reserva estimada em 1,7 trilhões
de dólares somente em madeira de lei.
Mas,
a Amazônia sempre foi alvo de cobiça, justamente pelo seu enorme
potencial de biodiversidade e de recursos minerais. Nos últimos
tempos, a floresta tropical tem sido atingida, frontalmente, pela
prática dos desmatamentos, pelo tráfico da madeira, de plantas
medicinais, da fauna, dos recursos minerais. São milhares de
hectares de floresta virgens derrubados todo ano, para atender o
tráfico internacional de madeira de lei e expansão da fronteira
agrícola. Há que se considerar, ainda, que a Floresta Amazônica
possui solo
pobre1
e a remoção de sua cobertura vegetal pode levar grandes extensões
do bioma ao processo de desertificação. O grande potencial de
recursos naturais da Amazônia acha-se enormemente ameaçado pelo
desflorestamento e pelas queimadas criminosas que ocorrem no bioma.
Aliás, é incalculável o valor da biodiversidade perdida pelas
queimadas e desmatamentos que já ocorreram até o momento.
Fonseca
(2008) aponta cinco consequências do desmatamento e da expansão da
fronteira agrícola no ecossistema da floresta amazônica:
- Destruição da biodiversidade – O desmatamento elimina de uma só vez grande contingente de espécies muitas vezes desconhecidas, além disso, homogeneíza o ecossistema quando se implanta a monocultura.
- Destruição do solo – A retirada da floresta rompe com o sistema natural de ciclagem de nutrientes, que na Amazônia se realiza com pouca transferência para o solo. Os solos deixam também de ser protegidos da erosão pelas chuvas.
- Estudos realizados pela EMBRAPA no Estado do Pará constataram que, dos 3,5 milhões de hectares de pastagens que substituíram a floresta, 500 mil se degradaram num intervalo de doze anos.
- Mudanças climáticas – As florestas são responsáveis por 56% da umidade local. Sua destruição elimina essa fonte injetora de vapor d’água na atmosfera, responsável pelas condições climáticas regionais. Ao mesmo tempo diminui o poder de captura do CO2 atmosférico.
- Estresse e doença – As monoculturas implantadas na Amazônia são mais sensíveis a pragas e doenças. O ecossistema sob estresse tem tolerância menor ao ataque de parasitas e doenças; conseqüentemente, têm sido introduzidas na Amazônia grande quantidade de inseticidas e agrotóxicos para atacar as pragas, o que destrói ainda mais a diversidade de espécies e contamina os ecossistemas aquáticos. (FONSECA, 2008, p.19)
Princípios
internacionais para a conservação das florestas tropicais
Existem
certos princípios que vêm sendo aceitos por organismos não
governamentais quanto por cientistas e alguns órgãos de governo.
Segundo Furlan (1999), são eles:
- As florestas tropicais são ecossistemas variados e complexos. Portanto, o seu manejo deve levar em conta o equilíbrio do conjunto de fatores bióticos e abióticos dos quais dependem , garantindo os bens que as florestas podem oferecer;
- Na América Latina, onde se encontram as maiores extensões de florestas tropicais, vivem múltiplos povos, em especial os indígenas. A consideração de seus direitos territoriais, sociais e culturais, de suas formas de particulares de vida e de civilização, assim como o uso dos recursos naturais, são condições indispensáveis para se construírem sociedades mais justas e sustentáveis;
- A responsabilidade pela conservação e pelo uso racional das florestas tropicais compete a toda a sociedade. Os Estados latino-americanos, que dispõem de ferramentas e instrumentos para garantir tal tarefa, devem permitir a participação dos cidadãos nas tomadas de decisão que afetem as florestas tropicais. (FURLAN, 1999, p.104)
Alguns princípios gerais
para um planejamento ambiental
Ross (1995) complementa
estes princípios ao estabelecer parâmetros para um efetivo
planejamento ambiental, que ele chama de planificação. A
planificação, quando visa considerar critérios de potencialidades
e impactos ambientais, deve ter em conta que:
- A região é um conjunto interativo dos aspectos socioculturais e naturais;
- A planificação e a gestão são processos interativos e devem criar metas em longo prazo;
- A planificação exige interdisciplinaridade na resolução dos problemas;
- O planejamento ambiental deve adotar um enfoque ecológico-holístico no qual o homem integra esse sistema;
- Um planejamento ambiental deve buscar o uso múltiplo do território e a reutilização como forma lógica de maximizar o aproveitamento dos recursos naturais para satisfazer às necessidades da produção;
- A sociedade deve ter participação intrínseca no processo. (ROSS, 1999, p.201)
Ainda
segundo Ross (1995), os planos de conservação podem ser construídos
conforme diferentes modelos metodológicos de planejamento.
Levando-se em consideração essas premissas, o uso de um recurso
natural ou do conjunto dos recursos de uma região pode ser planejado
conforme a seguinte sequência:
- Estabelecimentos dos objetivos;
- Levantamento das características físicas, biológicas e culturais do território – a profundidade do inventário varia com a profundidade dos objetivos a atingir;
- Valoração dos temas inventariados em termos de sua qualidade e grau de excelência;
- Predição da relação uso x território, avaliando-se o grau de impacto de acordo com as aptidões apresentadas pela região;
- Gestão e avaliação visando à maximização da aptidão global com a minimização do impacto. (ROSS, 1999, p.202)
Em
todos os ramos das ciências as ações sempre demandaram
planejamentos. Mas, nos tempos atuais, em particular, este
planejamento se torna imprescindível. Os ecossistemas terretres
nunca sofreram tantos impactos em função da antrópica como nos
dias de hoje. o
grande desafio é o planejamento de ações equilibradas que possam
garantir a sustentabilidade da Amazônia, não perdendo de vista o
bem-estar, a segurança e a preservação da cultura, do conhecimento
e dos saberes dos povos que habitam a floresta. A luta é para que a
ciência avance de uma tecnocracia que domina o homem, para uma
tecnologia a serviço da humanidade.
Referências
A’B SÁBER, Aziz Nacib. Os
domínios de natureza no Brasil:
potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
FURLAN, Sueli Ângelo. A
conservação das florestas tropicais.
São Paulo: Atual, 1999. – (Série meio ambiente)
ROSS, Jurandir Luciano
Sanches (Org.). Geografia
do Brasil.
São Paulo: Edusp, 1995. – (Didática; 3).
CALHEIROS R. de Oliveira et.
al. Preservação
e Recuperação das Nascentes.
Piracicaba: Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios PCJ – CTRN,
2004.
FONSECA, Valter Machado da.
SINAL DE ALERTA:Amazônia, o bioma ameaçado. In: IV Fórum Ambiental
da Alta Paulista, 21 a 24 de julho de 2008, Estância Turística de
Tupã (SP), CD-ROM
(Anais).
ISSN: 1980-0827.
______.Um bioma em extinção:
a expansão da fronteira agrícola no Cerrado Brasileiro. In: IV
Fórum Ambiental da Alta Paulista, 21 a 24 de julho de 2008, Estância
Turística de Tupã (SP), CD-ROM
(Anais).
ISSN: 1980-0827.
1 Apesar da
enorme exuberância da Floresta Tropical Amazônica seu solo é
pobre em nutrientes e, até certo ponto, possui grandes quantidades
de silicatos, o que lhe confere uma forte tendência à
desertificação. A floresta sobrevive da própria matéria orgânica
e do húmus produzido por ela própria. A remoção da floresta
acarretará a perda total de macros e micros-nutrientes, além de
deixar o solo totalmente exposto aos processos erosivos.



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